Vimos o mundo parar em 2020 com o imperativo do isolamento para o enfrentamento de uma pandemia, não discriminatória, alheia à ideia de território nacional. Mas a desigualdade social e econômica garantiu a discriminação do vírus, reforçando, ainda mais, o estado de vulnerabilidade dos mais pobres e periféricos. Passamos a reconhecer uma nova fase de recessão, retração das indústrias e retrocesso de grandes economias como Alemanha, EUA e China.
Com o imperativo do isolamento, modelos de vigilância irrestrita e sistemas de crédito social, aos moldes asiáticos, deram ânimo tanto às capacidades ordenadoras das novas tecnologias alinhadas à gestão dos fluxos sociais, como reconhecimento temporário aos parâmetros mais invasivos de organização da vida social em grandes cidades. A pandemia nos ensina que não dá para relaxar a consciência crítica digital. Diante de dispositivos emergenciais não se pode abrir mão da transparência da gestão pública e de relações íntegras entre os setores público e privado.
A pandemia foi um choque sistêmico que atingiu todo o mundo. Mas as respostas e esforços para resgatar as economias e conter os danos da paralisia são assimétricos.
Bancos Centrais se preparam para isso. Desabaram, definitivamente, as teorias fundadas no Consenso de Washington. Ativaram-se, finalmente, os pressupostos keynesianos das responsabilidades do estado, dos dispositivos fiscais, dos gastos públicos sociais, dos empréstimos seletivos e subsidiados e dos estímulos para salvar empresas e a renda básica das famílias.
Em 2020, imperativamente, todos fomos forçados a traçar caminhos para a sobrevivência, o que nos trouxe a oportunidade de conhecer novos rumos.
Para boa parte do setor privado e para indústria, a regra foi cortar gastos fixos. Como efeito, milhares de pessoas sentem na pele, perdem os seus empregos, contratos temporários são rescindidos e empresas se veem com dificuldade de manter salários e operações, além das dificuldades de contratar novos trabalhadores.
Com as redes de proteção social destruídas pelas políticas neoliberais de estado mínimo e as dificuldades de dialogar sobre uma renda mínima permanente, além de meios para manutenção dos empregos, o que reabilitará a demanda e os mercados internos? A colateral dívida?
Se a responsabilidade social está mesmo madura e importa, é preciso que lideranças empresariais legítimas defendam a redução imediata das desigualdades sociais, o trabalho decente, a renda justa, os direitos humanos e uma economia de baixo carbono, amigável com a natureza.
Chegou a hora da verdade da agenda da sustentabilidade para os sistemas produtivos.
Como será a resposta dos acionistas das empresas para manter seus compromissos com a responsabilidade social e apoiar as alternativas para superar a recessão de 2020 no Brasil?
Como será a resposta das empresas e dos governos para garantir a realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em 2030?